Denunciantes informaram à Polícia Civil que abusos envolvem supostas “brincadeiras maliciosas, com toques nas partes íntimas”, além de assédio moral
Ao menos três vítimas prestaram depoimento, nesta segunda-feira (20 de maio), na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). |
A Polícia Civil investiga o pastor Marcelo Douglas, da
igreja do Evangelho Quadrangular Aliança Profética, no bairro Céu Azul, região
de Venda Nova, em Belo Horizonte. Entre as denúncias, estão crimes de estupro
de vulnerável, com “brincadeiras maliciosas”, que envolveram, segundo
denúncias, “toques nas partes íntimas”, além de assédio moral. Ao menos três
vítimas prestaram depoimento, nesta segunda-feira (20 de maio), na Delegacia
Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca). A reportagem conseguiu
contato telefônico com o pastor, que se recusou a falar sobre a investigação e
desligou o celular.
Todas as vítimas que prestaram depoimento vão ter a
identidade preservada. Duas delas são jovens que tinham menos de 14 anos à
época dos crimes. O primeiro alega ter sofrido abuso dos 8 aos 15 anos,
enquanto o segundo aos 13. Nos dois casos, o pastor pode responder pelo crime
de estupro de vulnerável, devido à idade das vítimas — caso a Polícia Civil
ofereça denúncia ao Ministério Público, a Justiça aceite e ele seja
condenado.
Depoimento de uma das supostas vítimas
O terceiro depoimento foi prestado por um jovem que alega
ter sofrido importunação sexual e abusos por quatro anos, quando tinha 20 anos.
Ele começou a frequentar a igreja e confiou na “figura do pastor” como “líder
religioso e pessoa que busca o melhor para a vida dos outros”. Contudo, não
demorou a encontrar uma realidade “perturbadora”. “Via muitas brincadeiras com
jovens e adolescentes, de dar selinho na boca. Brincadeiras que invadiam a
privacidade das pessoas. Ele pegava nos órgãos genitais para medir tamanho”,
relata.
Em um dos episódios, o próprio jovem sofreu importunação
sexual. “O pastor entrou no meu quarto, sentou na beirada da cama e tirou o
órgão sexual dele, ereto, para fora do short. Em seguida, pegou na minha mão
para encostá-la nele. Ele tentou forçar, mas eu neguei. Ele usou a posição dele
para me persuadir, mas não conseguiu”, relembra.
O jovem também afirma que eram comuns os casos de assédio
moral e injúria racial. “Ele ridicularizava as pessoas pelo fato delas serem
gordas, negras. Sempre tentava se manter no topo. A gente meio que tinha uma
lavagem cerebral, porque achávamos que era normal, devido ao fato dele ser uma
figura religiosa”, relembra.
Publicação expõe denúncia
O professor e pastor Leonardo Alvim de Melo foi quem
auxiliou as vítimas. Nas redes sociais, ele postou um vídeo reunindo alguns dos
relatos que recebeu sobre os crimes que teriam sido cometidos ao longo de mais
de uma década. “Em seguida, comecei a receber relatos de várias vítimas. Por
isso, acredito que o número seja muito maior”, afirmou.
A postagem, nesta segunda-feira, já contava com mais de 500
comentários, por volta das 16h. Alguns dos internautas até demonstraram
conhecer histórias relacionadas aos pastor. Uma pessoa comentou: “tenho algumas
histórias para contar”. Outro escreveu: “já fui humilhada e maltratada por esse
indivíduo que se diz pastor”.
O pastor Leonardo Alvim acredita que as supostas denúncias
tenham demorado a se tornar públicas devido ao medo das vítimas e das famílias.
“Devido à exposição da criança e do adolescente abusado, as famílias preferem
não denunciar. O medo causado pelo abuso sobre as famílias, o que seria um
escândalo para a igreja”, diz.
Brincadeiras maliciosas
Conforme o pastor Alvim, as denúncias envolvem a prática de
“brincadeiras maliciosas” por parte do suspeito. “Ele pegava na parte íntima
dos meninos e usava isso como brincadeira. Ele os levava para cachoeiras,
bancava viagem, e lá arrancava a roupa e jogava longe, pedindo-os para buscar.
Um dia, ele tirou o pênis e mandou eles tocarem. Praticava masturbação na
frente deles”, conta.
O advogado e também pastor Marcelo Machado atua no caso. Ele
afirma que as vítimas, inclusive, “estão coagidas, com medo de denunciar e
relatar”. “Alguns abusos, ele praticava em tom de brincadeira. Dar beijinhos,
toques nas partes íntimas. O perfil dessas vítimas são adolescentes de 13 a 15
anos”, conta.
O outro lado
A reportagem entrou em contato com o pastor, que apenas
disse não ter conhecimento sobre a investigação policial. Em seguida, encerrou
a ligação. Foram feitas novas tentativas de contato, mas todas sem sucesso. O
espaço permanece aberto para que o religioso se manifeste sobre as denúncias e
a abertura da investigação.
A igreja do Evangelho Quadrangular também foi procurada, mas
não respondeu. O texto será atualizado quando houver um posicionamento da
instituição religiosa.
Como denunciar?
Denúncias de crimes sexuais podem ser feitas, de maneira
anônima, por meio do telefone 181. Também é possível procurar a delegacia de
Polícia Civil mais próxima. Em caso de emergência, acione a Polícia Militar,
por meio do telefone 190.
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